O serviço público de educação é um pilar essencial e imprescindível de uma democracia que, por definição, garanta a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento integral de uma sociedade moderna.

O Manifesto Futurista de Almada Negreiros


«O "Manifesto Anti-Dantas e por Extenso", escrito por Almada em 1915, foi uma pedrada no charco da vida literária e social da época. Hoje, à distância de décadas, o choque entre ambos assume novos contornos e permite outras leituras [...]
O primeiro acto que chamou as atenções do público para José Almada Negreiros, um jovem em começo de carreira no ano de 1915, não foi de natureza cultural, mas social, não teve intenções criativas, mas destrutivas. Tratou-se do lançamento de um manifesto de várias páginas e vários insultos dirigido contra o, então, expoente máximo das letras portuguesas: Júlio Dantas. [...]
Com irreverências nunca vistas, Almada achincalha-o (e ao que ele representa) gravemente, abrindo espaço para si e para a sua geração, a do "Orpheu", que Dantas apelidara de "paranóica". [...]
Fulminado de espanto, por indignação uma parte, por regozijo outra, o país divide-se, radicaliza-se. Almada passa a ter nome. E pressa. [...]
Decide jogar cada vez mais forte. Não tem a paciência, a intemporalidade de Pessoa. Quer o presente e quer sem medida, sem espera. [...]
Sabe que a maneira mais fácil, mais rápida, de se ganhar evidência nos círculos culturais é utilizar a violência, o escândalo, o terrorismo contra os, neles, famosos. [...]
Júlio Dantas - poeta, dramaturgo, cronista, jornalista, conferencista, médico, deputado, militar, ministro, glória das instituições, da política, da literatura, do teatro, da sociedade da época, académico de dezenas de academias, referência para o Prémio Nobel e para a Presidência da República - era-lhe uma tentação; até porque não iria reagir, não iria contra-atacar. As figuras proeminentes encontram-se, em situações dessas, muito expostas, quase indefesas. [...]
Dantas sofre a afronta em silêncio...
Almada multiplica-se em provocações. Espera Dantas à porta de casa - residia na Rua Ivens (habitou em 22 prédios diferentes)- e, quando o vê, põe-se em sentido, faz-lhe um manguito e berra: "As armas, às áármas, às áááááármas!" [...]
Feroz na amizade como na inimizade, Almada defende a murro (fizera-se razoável pugilista) Amadeo de Souza-Cardoso, quando um quadro seu é cuspido pelo público na abertura, em 1916, de uma exposição na Liga Naval. "É mais importante a descoberta da pintura de Amadeo do que a do caminho para a Índia, porque a Índia foi há quatro séculos", invectiva. ... [...]
Dantas ouve-o e entristece. Numa tarde de calor, à porta da Bertrand, está de conversa com Luís de Oliveira Guimarães. Almada desce a rua, pára na sua frente por instantes, tira o chapéu, inclina-se prossegue. Dantas segue-o com o olhar.
"Este Almada, sempre tão velho, coitado!", exclama.»
Texto:
Fernando Dacosta. "Almada e Dantas a Nu", Público Magazine, 4/4/93 (acedido em linha em http://www.prof2000.pt/users/tomas/almada_e_dantas_a_nu.htm, 11.05.2011)
Fonte:
Manifesto Anti-Dantas
(1915)
 
Texto: Almada Negreiros (ao centro e a direita)
Dito por: Mário Viegas (a esquerda)
Fonte: YouTube/

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